É uma honra para nós do blog Fulham FC Brasil anunciarmos a segunda entrevista que fazemos sobre o clube mais antigo de Londres. O nosso convidado para responder foi o comentarista dos canais ESPN e da Folha de São Paulo Rodrigo Bueno.
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Rodrigo é paulistano, tem 38 anos e é formado jornalista na PUC-SP. Fala de futebol inglês com a autoridade de quem o acompanha desde os anos 1980, desde que começou a atentar para o futebol internacional. É torcedor do Liverpool e simpatizante de Nottingham Forest, Notts County e Exeter City. Dentro das quatro linhas, tem como ídolos os representantes do Liverpool das antigas, com os jogadores Ian Rush, John Barnes e o técnico Bob Paisley. Ainda é fã de Gary Lineker e, mais recentemente, de Michael Owen e Ryan Giggs.
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Profissionalmente, além de trabalhar nos canais ESPN e na Folha de São Paulo, Rodrigo Bueno tem ainda uma coluna publicada na World Soccer Digest, revista japonesa de futebol internacional. Confira agora algumas opiniões dele acerca do mais antigo clube de futebol de Londres.
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Fulham FC Brasil: Após a grande campanha na Liga Europa da temporada passada, você considera a temporada atual do Fulham abaixo do esperado?
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Rodrigo Bueno: Claro que o sucesso internacional jogou mais luzes sobre o Fulham, mas é duro cobrar demais do time na liga nacional mais dura e endinheirada do planeta. A concorrência na liga inglesa é muito forte, diria que é mais fácil conquistar atualmente a Liga Europa. O Fulham deveria estar em uma posição melhor, mas o problema é que empatou demais. Isso mostra que não é um time facilmente batido, mas que também não ousou, não arriscou como deveria. Bolton e Sunderland melhoraram bem nesta temporada e fizeram por merecer uma posição mais destacada que o Fulham. A volta do tradicional Newcastle também embola ali o meio da tabela. Mas o Fulham não decepcionou mais que o Aston Villa, por exemplo.
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FFC Brasil: Em sua opinião, você acha que falta investimento de Mohammed Al-Fayed para fazer do Fulham um clube de maior porte?
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RB: Sem dúvida. O caso do Al-Fayed é curioso porque ele já tem muitos anos à frente do time e nunca fez o Fulham dar o grande salto que se esperava dele. Outros magnatas de fora assumiram outros times do mesmo porte e despejaram mais investimento em outros clubes. O vizinho Chelsea talvez seja o grande espelho. O Fulham parece, na esteira do Al-Fayed, um tanto quanto acomodado com sua condição intermediária na elite inglesa.
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FFC Brasil: Para você, o vice-campeonato na Liga Europa ajudou o Fulham a subir no escalão do futebol inglês ou o clube ainda está longe dos times que batem de frente com os grandes?
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RB: Ainda está longe. Não dá para comparar o investimento e a ambição do Fulham com as de Chelsea e Manchester City, por exemplo. E historicamente não dá para comparar o Fulham com potências como Arsenal, Liverpool e Manchester United. O Fulham melhorou sim seu patamar na Europa, assim como os times ingleses de uma forma geral.
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FFC Brasil: De uma forma geral, como você vê o Fulham atualmente?
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RB: O Mark Hughes não é o técnico dos meus sonhos, ganhou algum destaque com um Blackburn bastante duro, às vezes violento, e naufragou no Manchester City em sua grande chance na carreira de técnico. Tem um bom goleiro, o Schwarzer, conta com uma boa temporada de Dempsey (há uma tradição americana no clube já) e a liderança do Murphy. Tecnicamente, o time não tem muitos recursos. Senderos e Duff eram jogadores discutiíveis mesmo quando estavam no auge. Andy Johnson também não parecer ser o mesmo de outros tempos. A equipe depende muito do jogo coletivo, do acerto tático, faltam estrelas.
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FFC Brasil: Alguma vez você já viajou à Inglaterra? (à trabalho ou turismo). Caso tenha, Você já esteve em Craven Cottage?
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RB: Já viajei sim à Inglaterra, sempre como turista. Espero conhecer o Wembley a trabalho na final da Champions League deste ano. Conheço basicamente Londres na Inglaterra, mas ainda não tive a honra de conhecer o  Craven Cottage. Espero fazê-lo logo, pois creio que em alguns anos os estádios mais charmosos da Inglaterra acabarão todos para dar lugar a modernas arenas, tal qual aconteceu com o Highbury e o Emirates Stadium.
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FFC Brasil: O Fulham usa a mesma base em seu elenco há pelo menos três anos. Você acha isso um ponto importante ou não considera algo ideal para um time de futebol?
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RB: A base ajuda muitas vezes, mas ela precisa ser sempre incrementada. E o Fulham não tem feito muito isso, diferentemente de alguns concorrentes. O Fulham parece sempre um time que não vai brigar contra o rebaixamento mas que também não vai conseguir brigar pelas competições europeias. Essa zona de conforto não é muito boa, na minha opinião. O Fulham deveria se jogar de cabeça então nas copas, nacionais ou internacionais, ganhando título, como fez o Birmingham nesta temporada, e como quase fez o Fulham na temporada passada na Liga Europa.
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FFC Brasil: Do atual time cottager, quais jogadores você destacaria e diria que teriam condições de jogar em um clube de maior visibilidade?
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RB: Schwarzer jogaria facilmente, por exemplo, no Arsenal. Dempsey é a estrela na linha e, se tivesse mais marketing, poderia estar em algum dos gigantes.

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FFC Brasil: Quais são suas impressões sobre o trabalho do técnico Mark Hughes no comando do Fulham?
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RB: A sequência de empates e o saldo zero de gols do time são muita culpa dele, que não solta a equipe. É o tipo de técnico que parece ter tanto medo de perder que trava o próprio time em campo. Falta ousadia para ele, que aposta muito no atacante soliário. Tudo bem que o 4-2-3-1 é o esquema da moda, mas o Fulham parece muito quadrado em campo, esperando apenas a chegada do Dempsey. Fica bastante previsível, mantém muito do velho estilo britânico, mas sem a velocidade necessária.
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FFC BrasilO Fulham costuma apostar em jogadores experientes e com bastante rodagem. Você concorda com esse modelo de gestão ou acha que o clube deveria priorizar mais as categorias de base?
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RB: A categoria de base de todos os times da Inglaterra deverá ser valorizada com a mudança nas regras da Premier League, que obriga agora os times a encherem o elenco com jogadores locais. O Fulham não tem a tradição do West Ham em revelar jogadores, mas deverá começar a dar mais atenção aos jovens, notadamente os britânicos. Creio que os experientes e as estrelas são importantes, isso pode fazer a diferença em favor do Fulham, mas é preciso promover a mescla entre a juventude e a experiência. Se o Fulham desenvolver também a capacidade de encontrar novos talentos do exterior, poderia lucrar muito com negociações internas. O mercado inglês é muito inflacionado. Assim, o Fulham deveria pescar jogadores como David Luiz e Ramires antes de eles chegarem ao Chelsea dando lucro ao Benfica. Arsenal, Chelsea e Manchester United têm bons headhunters mundo afora, algo que o Fulham deveria investir. No meio dos anos 90 quando o Middlesbrough comprou o Juninho começou uma pequena revolução em sua história.

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FFC Brasil: Uma questão bastante discutível é a rivalidade entre Fulham e Chelsea, pois apesar de os dois clubes serem vizinhos e terem uma rivalidade acirradíssima e pra lá de centenária, há quem diga que pela diferença de orçamento os blues estão em outro patamar. Você concorda com isso ou acha que ainda há rivalidade na SW6?
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RB: Como é um time londrino, é natural que o Fulham tenha muitos clássicos adversários, como Queens Park Rangers e Brentford, mas a história do time está intimimamente ligada com o Chelsea, com quem ''divide'' o bairro. Nas divisões inferiores o Fulham fez ácidos confrontos com outros times, notadamente com o Gillingham, mas o Chelsea virou um adversário mais comum nos últimos anos. Mesmo com a disparidade econômica entre os dois clubes, os confrontos têm um charme todo especial na primeira divisão. Poderia fazer um paralelo com o Real Madrid x Atlético de Madrid hoje em dia. O Real abriu muita frente sobre o rival local, ficou galáctico e já não tem o Atlético como um inimigo mortal, mas para o Atlético ainda há um enorme prazer em desbancar o adversário favorito.
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FFC Brasil: A final da UEFA Women's Champions League 2011 será em Craven Cottage. Você vê isso como uma conquista para o clube ou apenas como um prêmio de consolação pelo vice-campeonato da Europa League?
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RB: Não deixa de ser um prêmio para o time, mas a verdade é que a Inglaterra é uma Meca hoje para jogos importantes. Wembley, Old Trafford, Emirates... quase todos os estádios ingleses têm recebidos jogos de seleções de todos os lugares do mundo e viraram modelo. A organização é exemplar na Inglaterra, e a visibilidade dos jogos lá também é maior.
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FFC Brasil: Deixe um recado para os fãs cottagers e à todos os nossos leitores.
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RB: Que vocês continuem cada vez mais curtindo e apoiando o Fulham, buscando divulgar o clube no Brasil, tentando contato mais direto com a equipe, se possível visitando Craven Cottage. Que você sejam embaixadores oficiais da equipe no Brasil. Apesar da distância, hoje há muitas ferramentas para aproximar os fãs brasileiros de um time estrangeiro. Estou certo de que o simpático Fulham os receberá muito bem e terá enorme orgulho em saber que no Brasil há um grupo organizado de torcedores dos Whites. Um abráááááááço!

Um comentário:

  1. Ola equipe do Blog...

    Eu esperava mais do Al-Fayed... esperava sinceramente mais investimentos pra formar um time mais forte e como ja disse o rodrigo na entrevista (muito boa por sinal)falta uma estrela pra se destacar.
    E sobre o Craven e uma possivel nova arena, eu acho que a torcida nao abandonará o estadio mais charmoso da premier league, oportunidade ja teve mas a torcida nao quis.

    abraço galera

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